falling The Path
Mensagens : 379 Data de inscrição : 07/03/2008 Localização : CBT
| Assunto: De dia somos todos feios Ter Dez 08, 2009 12:55 am | |
| I porque a noite é a mãe puta e sedenta que embala, para devorar os filhos amantes entre os dentes. Não a vês, ela não te vê. Ninguém vê, tu não vês. Uma arma. Uma bala. Bocados de ti. Alma de mim. II Os cães alinhados. Ele diz que não se consegue controlar. Ele diz que a bala há-de entranhar-se na carne. Ele come violência. Ele nunca tem fome. Um dia desarmou os ossos e a violência atravessou-lhe a garganta. O sangue avermelhou o azulejo. A bala silenciava a arma. Só havia sangue, não havia restos, bocados… não havia mais nada porque ele comia violência. Qual a razão para teres medo deles? Qual a razão para baixares o olhar por entre o pó e as pedras? A repugnância abarca-lhes a existência. III O banquete dos diluídos. Tu existes. E vais prosseguir com a existência. Só, te deixam por entre as pedras. Olha para cima, o inferno. Se o músculo está dorido, fermentado e podre, injecta-lhe anestesia. Sorri para mim. Só para mim. Eu estou aqui, só para ti. Eu sou tua, tua. Já viste como és grande? Já viste quanto mundo tu preenches? Quanto ódio inalas? Já viste quanto desprezo se repercute? Tanta coisa para degustar! Tudo preparado a preceito. O banquete dos diluídos. IV De mim Ainda não tinha embarcado. Estava à margem, à espera. Não me apeteceu saltar. Sou um gato e, salto apenas para o preenchido. O barco zarpou. Eu continuei. Tens razão. O mundo está cravejado de vampiros. Vá, grita comigo. Enlacemos a corda, partamos os ossos e cuspamos o sangue podre. Vá, eu não falto. Não cesso. Não prescrevo. Sem ti. Dá-me a mão, deixa-a intacta. Toda tu és minha. Aqui não há conceitos. Não há punições. Não tenho olhos para te olhar. Não sou feita de carne. Não tenho ossos. Mas preencheria o “vaso” se quisesses… Vivo em ti, não te perfaço. Escolheste-te. Eu reproduzi-me na tua alma. Não somos um, Uma. Nem dois ou duas. Somos o todo de um e uma só. Não precisas comer para mim, respirar ou foder para mim. Eu não existo. Eu sou imensidão. Não fales de mim. Não me alcances, não me busques. Eu não existo mas nunca cesso. Eu adormeço-te, não sabes. Eu sei. Mas tu sabes que existes. Tu precisas de existir. Eu estou. V
Quem está aí dentro? Não gosto quando tens olhos de ribeira… Ficas quebrável e a água esvai-se. Crias brechas e mais brechas e corres… Tantas vezes vais. Tantas… Tenho medo que não voltes. Tenho medo que seques. Eles têm corpos de pernas e braços. Tu tens vidro e carvão. E bate na mesma. Em ti, a porção de sono, é inabalável. Ainda não aprendeste. Tem paciência. Ainda és tão pequenina. E sabes o que é a fome. Isso é bom. Ele diz que esses espinhos todos são bons. O outro diz que somos renegados. Mas quem vive és tu. Quem está aí dentro? Terei mesmo escolhido? Vou voltar lá para fora. Expirou. VI Ter, fazer, estar, entender… Ter sempre um ponto de chegada. Um alvo. Um sitio onde estar. Ter sempre o lugar do lado preenchido. Andar a quatro pés. Ter sempre palavras na boca. Estar sempre em sítios. Só tenho duas pernas. A boca mantém-se fechada. Assim é. | |
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Lady Amdis Admin
Mensagens : 230 Data de inscrição : 04/09/2007 Localização : Lisboa, Portugal
| Assunto: Re: De dia somos todos feios Ter Dez 08, 2009 12:52 pm | |
| Tens imenso jeito para a escrita | |
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